Impacto da Internet nas eleições de outubro divide opiniões
Nathalia Fernandes
Da BBC Brasil em Londres
As eleições de 2010 no Brasil devem ser marcadas pela incorporação da internet como uma ferramenta importante nas campanhas eleitorais, mas especialistas ouvidos pela BBC Brasil ainda se dividem sobre a magnitude do impacto do uso da rede mundial de computadores na disputa.
Termos como blog e rede social foram incorporados à legislação eleitoral brasileira pela primeira vez na minirreforma de 2009, quando o uso da rede mundial e computadores na campanha política foi regulamentado.
O sucesso da campanha de Barack Obama em 2008 nos Estados Unidos - quando o potencial da rede mundial de computadores foi amplamente explorado - inspira os políticos no Brasil. Mas, por outro lado, apenas cerca 25% dos brasileiros estão conectados à rede.
O ano do boom?
“Este ano parece que vai ser o ano do boom da internet. Todos os partidos estão se preparando", afirma Fabiano Carnevale, secretário de Comunicação do Partido Verde (PV), partido que já há dois anos vem investindo no uso da rede e hoje tem páginas no Facebook, Twitter, Orkut e um canal no YouTube.
"Em 2006, a comunicação pela internet era feita por páginas relativamente estáticas e por envio de boletins a grupos de e-mails cadastrados. Hoje as possibilidades são bem maiores. Há muito mais interatividade", afirma André Vargas, secretário de Comunicação do Partido dos Trabalhadores (PT).
O lançamento da pré-candidatura de Dilma Roussef pelo PT - marcando a primeira transmissão ao vivo da TVPT, canal transmitido via web - confirma a aposta.
Segundo nota divulgada no site do PT, a transmissão pela internet "comprova a importância das novas tecnologias para a disseminação da informação". O partido sustenta que, durante pouco mais de três horas, a transmissão foi acessada por mais de 31 mil internautas de 41 países.
O palpite de Eduardo Graeff, secretário de Comunicação do PSDB, no entanto, vai em outro sentido.
Segundo ele, esta ainda será uma "eleição de transição, mais parecida com a eleição presidencial anterior a do Obama, em 2004, quando Howard Dean foi muito bem-sucedido usando a internet nas primárias do Partido Democrático".
Graeff justifica seu palpite argumentando que "esta é ainda a primeira eleição em que as campanhas vão tentar usar a internet aproveitando o conhecimento estabelecido pelas campanhas americanas. Mas aprender a fazer isso bem e adaptar isso à nossa realidade é algo bem mais complexo".
"O interesse é grande, mas o impacto ainda deve ser limitado até porque temos cerca de 30% dos eleitores conectados. Nos Estados Unidos, são quase 80%", completa o secretário do PSDB.
Especificidades da rede
Para a cientista política e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) Maria do Socorro, o impacto da internet deverá ser sentido de diferentes formas nestas eleições.
O primeiro aspecto que ela ressalta é a própria agilidade intrínseca à rede mundial de computadores e como isso pode influenciar a parcela do eleitorado que está indecisa.
"A gente está numa campanha eleitoral muito polarizada entre duas forças, PT e PSDB, situação e oposição, então qualquer fato político que venha a repercutir vai ter outra dimensão na internet e pode até mesmo ter um papel importante na definição da eleição presidencial", afirma Maria do Socorro.
Outro ponto levantado pela cientista política é a o impacto do uso da internet na questão da profissionalização da política no país. "Com a internet, a profissionalização vai aumentar. Você precisa de mais pessoas que entendam e façam essa ferramenta funcionar."
Para dar conta do desafio que a internet representa, o PSDB criou uma equipe voltada só para a campanha na internet. "É muito diferente você se comunicar num blog ou no Twitter. Você tem que falar com as pessoas não como massa e sim como indivíduos. É o oposto da televisão", afirma Eduardo Graeff.
Para o Partido Verde, a rede de computadores representa “um melhor espaço para fazer política”.
“E melhor porque não é uma comunicação de cima para baixo, como acontece normalmente e onde não há espaço para interagir. Na internet, você descentraliza o processo. O afiliado pode também gerar material", completa Carnevale, secretário de Comunicação do PV.
Comportamento do eleitor
O perfil do eleitor que o Partido Verde pretende atingir, no entanto, não é o padrão. E o secretário do partido reconhece a diferença.
"A Marina Silva (pré-candidata à Presidência), até pelas temáticas que envolve, como ética e meio-ambiente, atrai um perfil de eleitor que usa bastante a rede", sustenta Carnevale.
Na opinião da cientista política Maria do Socorro, o eleitor brasileiro é um "eleitor passivo" e a possibilidade de maior participação política que a rede proporciona ainda terá de ser assimilada pelos brasileiros.
"A internet pode levar a uma mudança de comportamento por parte do eleitor criando maior empatia e preferência partidária do que acontecia normalmente. É um meio para aumentar este vínculo", sustenta.
Arrecadação
Antes da minirreforma eleitoral de 2009, a lei brasileira era, em linhas gerais, omissa quanto à utilização da internet para a propaganda política. Agora, candidatos poderão não só usar a rede para difundir suas ideias como também para arrecadar recursos.
Doações poderão ser feitas através da internet usando depósitos bancários ou cartões de crédito e o limite a ser doado na rede segue o mesmo padrão de arrecadação por outros meios.
No entanto, o quanto esta nova ferramenta pode gerar de recursos ainda é incerto.
O PT não tem nenhuma projeção, embora reconheça a importância que esta nova fonte de contribuição representa.
"Mecanismos como o PayPal (empresa que permite a transferência de dinheiro através de email) e similares poderão nos ajudar nesta nova tarefa", afirma André Vargas.
"Como não há precedente é difícil fazer uma previsão. Nós ficaríamos felizes se a arrecadação pela internet pagasse os custos da campanha pela internet", diz Graeff.
* do UOL Tecnologia